Golegã. Perde-se no tempo o surgimento do núcleo populacional, certa é a presença desde períodos pré-históricos do Homem por estas paragens.

De campos férteis e águas correntes, alimentadas pelos rios que lhe servem de fronteira, é fácil entendermos por que para aqui se conta ter vindo uma mulher oriunda, da Galiza e que procurava lugar para assentamento ao longo do principal eixo viário do reino.

Ousada foi intentando negócio próprio pelas eras medievas, onde já desde o reinado de D. Sancho I se ouvia falar do lugar, próximo das comendas, pouco mais tardia, da Cardiga e do Boquilobo, pertença da Ordem de Cristo, mas também da La(v)bruja, que no século XIV viu, doados pelo Rei, os seus termos por importantes serviços à coroa.

Prosperando o negócio, da galega e dos demais que aqui acorriam, afamada a comida, o clima, a orografia e as montadas equestres, que por decretos régios foram sendo valorizadas e protegidas face às muar, e pela destreza do animal maioritariamente servente na milícia, cuja raça, lusitana, pela simpatia que temos para com o povo que ocupou eras antes parte do território hoje nacional, viu o seu nome ser-lhe atribuído.

Laboriosa a galega, cujo contributo parece ter sido ímpar ao ponto de apelidar o lugar, depressa atraiu outros que aqui estabeleceram negócio e morada, florescendo de forma célere o povoado.

Do campo sempre veio o sustento. Do rio a vida e o transporte. Da estrada, que ligava o centro do reino ao norte, os passageiros que afamaram o negócio da troca de montada. Prosperou tanto a mercancia, o lugar, o povo, contado em fogos, que com pressa se foi emancipando de Santarém, assumindo estatuto de vila em 1534.

Encantados pela visão economicista do lugar e do evento, onde para além dos frutos da terra, se vendiam belos exemplares equinos, de forma a não perturbar outro que acontecia também pelos inícios de outubro para os lados de Penela, pediu-se então a El- Rei D. Sebastião que mandasse estabelecer a feira noutra altura mais conveniente.

Não lhe foi lastimosa a troca de mês, decretada também a troca de patrono, que de São Francisco passou para S. Martinho. Instituída a tradição, a primeira feira realizada oficialmente acontece em 1571, chegando-nos um cunho identitário difícil de desligar do território e das gentes.

Genuína. Este é possivelmente o melhor adjetivo para esta feira. Não há no mundo, segundo se diz, outro certame com o mesmo carácter.

Evento ou lugar que desde o século XVI faz com que a simbiose entre Homem e Cavalo adquira a perfeita sintonia que na Golegã se pode admirar. Nem se conhecem tampouco relatos de festejo popular, de secular tradição, de entrada franca e com tamanha dimensão, como esta.

Apaixonante, é assim que nacionais e estrangeiros vivem a forma de se ser goleganense durante dez dias. Quem vem uma vez, acaba sempre por regressar.

Nesta arrebatadora soma de premissas entram a tradição do certame; o costume quase umbilical de anualmente aqui se fazer aparecer; a cumplicidade entre Homem e animal que lado a lado percorrem as ruas da vila como iguais; os trajes, o fumo das castanhas e doce sabor da água-pé que nos invadem o corpo e enchem a alma; a combinação ímpar e perfeita, entre o que foi, é e será, sempre GOLEGÃ.